Engenheiro com câncer raro entra na Justiça para obter remédio de quase R$ 2 milhões

Foi uma dor no peito que não cessava e uma íngua na clavícula que fez o engenheiro eletricista e professor juiz-forano Renan Sena, de 29 anos, procurar um médico em março do ano passado.

Após exame imuno-histoquímico feito em São Paulo, seis meses depois dos primeiros sintomas, veio o diagnóstico: um tipo de câncer raro no timo – glândula localizada próximo aos pulmões, que participa da defesa imunológica.

Como o tumor havia se espalhado, a indicação cirúrgica foi descartada e uma análise mais aprofundada feita a partir do envio de amostra para a Foundation One Cdx, nos Estados Unidos, e com profissionais brasileiros, como do Hospital do Amor, em Barretos – referência no tratamento de câncer – apontou que o remédio Pembrolizumabe pode ajudar no tratamento de Renan.

No entanto, devido à raridade do caso – não há registro de outro diagnóstico igual no Brasil – ele enfrenta dificuldades em obter o remédio, que é importado e custa cerca de R$ 22 mil cada ampola – por mês, serão necessárias duas delas.

A avaliação médica indica que o uso do remédio por dois anos, em um tratamento estimado em aproximadamente R$ 1,8 milhão.

O engenheiro entrou na Justiça solicitando os 3 meses iniciais da medicação, travando longa batalha judicial até conseguir a primeira ampola no início de julho.

“Eu nem acreditei quando tomei o medicamento, pois foram meses de burocracia médica e jurídica, tive várias frustrações, e o meu caso piorou, mas no último momento foi liberado, e a esperança foi retomada, principalmente porque os tratamentos que eu estava fazendo não eram exatamente para o meu caso, mas para câncer de pulmão, pois pro meu caso não existe quimioterapia”, explicou.

Rotina nas redes sociais

A luta contra a doença passou a ser compartilhada em um perfil criado nas redes sociais, que mostra dia a dia do caso, como as sessões de quimioterapia – feitas para tentar evitar o avanço do câncer.

Também são divulgadas iniciativas de amigos e familiares, como vaquinhas, sorteios e brechós solidários na #CampanhaCuraParaRenan.

“A rede social tem sido um meio para divulgar a rotina do tratamento para ajudar outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema, trazer informações e dicas que podem ajudar a quem está passando por esse momento difícil, além de mostrar como é viver com o câncer, que não é nada parecido com o que vemos na televisão, onde a doença é somente sinônimo de sofrimento e morte”, contou Renan.

“E pessoalmente para mim, tem me ajudado a expor e desabafar situações sobre a doença e receber força e apoio de amigos e pessoas que eu nem conhecia antes”.

Negativas e judicialização

Com a chance do medicamento auxiliar no tratamento, Renan fez solicitações ao Estado, que inicialmente se negou a fornecer o remédio. O caso, então, foi parar na Justiça.

Umas das justificativas é que na bula não consta o tipo de câncer do engenheiro. Como a doença é muito rara, o advogado especialista em direito médico Davi Coelho explica que a lei prevê que, com os laudos que comprovem a eficácia do medicamento, o SUS pode ser obrigado a fornecer o produto:

“Havendo a incorporação do medicamento ao SUS, por mais que ele não esteja previsto para a terapêutica de alguma doença, se existe a demonstração de eficácia desse medicamento para o tratamento e padrões técnicos demonstrados pelos médicos e pelo núcleo técnico-jurídico, favoráveis ao fornecimento desse medicamento, a Justiça defere esta medicação independentemente de estar ou não prevista no protocolo terapêutico do SUS”, explicou.

A primeira das ampolas só foi liberada no dia 1º de julho, após quatro meses no início do processo judicial. Receber a dose, ainda que seja a primeira, trouxe muito alívio e esperança para o juiz-forano:

“Foi alegria. Deu tudo certo, e fisicamente me sinto bem. Parece que eu tomei um soro na aveia, não teve efeito colateral nenhum, não me senti cansado, sem enjoo, não é igual a quimioterapia que deixa a gente com muitos sintomas e efeitos colaterais. Outra parte boa é que meu cabelo e barba vão voltar a crescer, a pele não vai ficar com branca e pálida. É um medicamento novo, com a tecnologia e muito eficaz. Então eu fico muito feliz com isso, graças a Deus.”

Com informações do G1 Zona da Mata


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