Alimentação: como a nutrição faz parte do tratamento oncológico

Muito se fala sobre a importância da alimentação na prevenção do câncer. O que ainda não se discute com a mesma frequência é o papel fundamental da nutrição durante o tratamento e na recuperação do paciente.

A comida, que tantas vezes perde o sabor, o sentido ou a função durante essa fase, precisa ser reconectada à ideia de cuidado: não apenas como fonte de nutrientes, mas como aliada no enfrentamento da doença.

Durante o tratamento oncológico, o paciente se depara com uma série de desafios, sejam eles físicos, emocionais, sociais. Os efeitos colaterais podem ser intensos e variáveis. Náuseas, alteração no paladar, perda de apetite, desconfortos digestivos e fadiga são apenas alguns dos fatores que impactam diretamente a alimentação e, por consequência, a força do corpo para reagir.

É nesse ponto que entra a nutrição oncológica como parte central da estratégia terapêutica. Alimentar-se não é apenas necessário, é terapêutico. E isso não significa uma dieta restritiva, sem sabor ou padronizada. Pelo contrário, cada paciente tem necessidades específicas e cada fase do tratamento exige uma abordagem diferente. Comer bem, dentro das possibilidades de cada um, é também uma forma de acolher o corpo e favorecer o tratamento.

Diversos estudos científicos vêm comprovando os benefícios das abordagens nutricionais no cuidado com o paciente oncológico. Uma alimentação equilibrada pode ajudar não apenas na resposta ao tratamento, mas também no controle de efeitos colaterais, no estímulo à imunidade e na melhora da qualidade de vida como um todo.

Entre os nutrientes que merecem destaque estão as vitaminas, minerais e compostos bioativos, substâncias naturais presentes em alimentos in natura ou adicionadas a preparações específicas, que possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e ajudam no equilíbrio das funções celulares. Exemplos disso são as fibras presentes nos vegetais, o resveratrol das uvas escuras, a curcumina da cúrcuma e o licopeno do tomate.

Além da escolha dos alimentos, a organização das refeições ao longo do dia também faz diferença. Recomenda-se a realização de seis refeições diárias (café da manhã, almoço, jantar e três lanches intermediários) para manter os níveis de energia estáveis e favorecer a absorção de nutrientes.

A tradicional pirâmide alimentar brasileira, baseada em uma dieta de 2 mil calorias, orienta o consumo balanceado de diferentes grupos alimentares: porções adequadas de frutas, verduras, legumes, grãos, proteínas e gorduras. No entanto, cada paciente tem necessidades específicas, que variam conforme o estado nutricional, a fase do tratamento e as condições clínicas. Por isso, o plano alimentar deve ser sempre individualizado, preferencialmente com acompanhamento profissional.

Outro ponto importante é a prática de atividade física, sempre que possível e de acordo com a condição clínica do paciente. Movimentar o corpo por ao menos 30 minutos ao dia pode trazer benefícios físicos e emocionais, colaborando para a recuperação e o fortalecimento geral.

Cuidado em todas as fases do tratamento

A prática clínica, no entanto, mostra que muitos pacientes e familiares se sentem perdidos, especialmente quando não há uma orientação nutricional individualizada, o que dificulta as escolhas e gera insegurança.

Recentemente, o Instituto Vencer o Câncer lançou a cartilha “Nutrição e Câncer – Cuidado e Sabor em Todas as Fases do Tratamento”, que procura oferecer informação de qualidade de forma leve, respeitando os desafios reais vividos por pacientes, cuidadores e familiares.

A publicação fala sobre o que é “comida de verdade”, orienta como lidar com sintomas comuns, explica o papel dos nutrientes e traz sugestões de receitas. Outro ponto abordado são os nutrientes-chave para o sistema imunológico, a manutenção da massa muscular e o equilíbrio do peso, sem perder de vista que nenhuma cartilha substitui o acompanhamento de um profissional.

O que está em jogo, no fim das contas, é mais do que um cardápio. É a possibilidade de devolver ao paciente um pouco de controle e de conforto por meio da alimentação. É mostrar que, mesmo em meio aos desafios que podem surgir durante o tratamento, é possível reencontrar prazer, equilíbrio e força no ato de comer.

Com informações do Estadão

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