O câncer de mama já mudou a rotina de 2.767 mulheres mineiras entre janeiro e agosto de 2025 — o que equivale a mais de 11 novos diagnósticos por dia. Em todo o ano passado, 6.907 casos foram registrados, segundo dados do Painel de Monitoramento do Tratamento Oncológico, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Mais do que números, a doença impõe limites físicos e provoca um abalo emocional profundo. A psicanalista Maria Amélia Gomes, de 45 anos, vive essa realidade há mais de três anos. “O desafio físico é que o tratamento te interrompe. Você não pode abraçar as pessoas que ama, há restrições alimentares. Durante o tratamento, tentava me exercitar em casa e até nos corredores do hospital”, contou.
Ela lembra que pequenas conquistas ganharam grandes significados. “Eu comemorei quando consegui dar poucos passos depois da cirurgia. Parecia simples, mas foi uma grande vitória”, relatou. A fé também teve papel central para muitas mulheres: Maria Helena Costa, de 60 anos, afirma que essa foi sua principal fonte de sustentação. “O tratamento é muito agressivo, e, se a gente não tiver fé, nada acontece”, disse.
O diagnóstico, no entanto, veio acompanhado de desafios pessoais. “Quando recebi o diagnóstico, fiz tudo calada. Só contei para minha família depois que já estava tudo confirmado. Quando contei para o meu marido, ele me disse: ‘E você vai fazer tratamento pra quê, se vai morrer mesmo?’”, recorda.
A reação a fez tomar uma decisão drástica. “No dia seguinte, falei pra ele ir embora. Disse: ‘Se, na hora da enfermidade, você não pode cuidar de mim, não preciso de você’. Ele juntou as coisas e foi. Então, além da doença, ainda passei por uma separação”, contou.
Mesmo diante das dificuldades, o apoio familiar e a espiritualidade foram fundamentais. “Graças a Deus, meus filhos e minha irmã me apoiaram muito. E, sem fé, eu não estaria aqui hoje”, afirmou. Hoje, Maria Helena comemora a recuperação. “Tem um mês que recebi alta. Como o câncer que eu tive não era hormonal, não vou precisar tomar aqueles remédios de cinco anos. Só faço acompanhamento a cada três meses; depois, vai passar para seis. É só pra garantir que não volte — e não vai voltar, em nome de Jesus”, disse.
A dor física também marcou o tratamento de Rebeca Caroline Martins, de 34 anos, mãe de duas crianças pequenas, de 2 e 6 anos. “O maior desafio físico foi lidar com a dor. Eu não conseguia dormir, andar direito ou subir escadas. Meu maior sofrimento foi não conseguir pegar meus filhos no colo”, contou. A melhora, felizmente, veio rápido. “Em cerca de dez dias, eu já não mancava mais”, lembrou. Segundo ela, o aspecto emocional foi ainda mais desafiador. “Quando a gente recebe um diagnóstico assim, perde o controle da vida. Eu só pensava em poder viver para cuidar dos meus filhos”, relatou.
A fé, novamente, aparece como pilar. “Durante todo o tempo, eu vi o cuidado de Deus. A fé em Jesus me sustentou de uma forma maravilhosa”, disse. Rebeca se lembra de ter feito três pedidos durante o tratamento: “Eu pedi três coisas para Deus: que a minha alegria não fosse embora, que Ele me desse força e que me permitisse cuidar dos meus filhos. As três Ele me concedeu”, afirmou. Mesmo diante do medo, ela nunca deixou de olhar para o futuro com esperança. “Mesmo com o diagnóstico, nunca tive um dia em que fosse difícil levantar da cama. A alegria continuou”, completou.
Testes genéticos e desafios
A mastologista Renata Saliba, que atua na Rede Mater Dei e integra a diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais, também chama atenção para a importância dos testes genéticos, ainda de acesso restrito no sistema público de saúde.
“Ainda não temos, no SUS, a disponibilidade ampla do teste genético que identifica mulheres com risco muito alto de desenvolver a doença — em alguns casos, esse risco chega a 70% ou 80%”, explicou. Ela reforça que o exame é essencial para orientar cirurgias profiláticas, indicadas para pacientes com alto risco hereditário. “É esse exame que orienta cirurgias preventivas, como as que ficaram conhecidas no caso da Angelina Jolie. Essa é uma área em que ainda precisamos avançar”, afirmou.
Avanços no tratamento e prevenção da recidiva
Os avanços médicos e o cuidado com o estilo de vida têm contribuído para aumentar as chances de cura e reduzir o risco de recidiva. Segundo a mastologista Renata Saliba, as recomendações de prevenção valem tanto para quem busca evitar o câncer quanto para quem já enfrentou a doença. “As mesmas orientações de bons hábitos de vida continuam válidas: atividade física, alimentação saudável e controle do peso aumentam as chances de cura e reduzem o risco de recidiva”, explicou.
Ela destaca ainda que os tratamentos se tornaram mais precisos. “Hoje, o tratamento é cada vez mais individualizado, baseado nas características de cada paciente e no perfil molecular do tumor. Isso permite direcionar o que realmente funciona para cada caso”, acrescentou.
Fonte: O Tempo
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