Composto químico ligado a câncer é encontrado em chupetas vendidas no Brasil

Uma análise internacional identificou a presença de bisfenol A (BPA), um composto químico ligado a doenças hormonais e câncer, em chupetas fabricadas por grandes marcas europeias e vendidas no Brasil: Curaprox (Suíça), Sophie la Girafe (França), Philips Avent (Holanda) e a chinesa Saidah Baby Products.

Os testes, conduzidos pela dTest, órgão oficial da Associação Tcheca de Consumidores, detectaram BPA em chupetas comercializadas como “sem BPA” ou “de borracha natural”.

No Brasil, é proibido a venda de produtos infantis com BPA, como mamadeiras e chupetas, desde 2012, conforme regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

No estudo da dTest, foram analisados 21 modelos, 19 comprados em lojas na República Tcheca, Eslovênia e Hungria, e dois obtidos na plataforma on-line Temu.

A investigação reproduziu condições semelhantes à boca de um bebê: cada chupeta foi submersa em uma solução de saliva artificial a 37 °C por 30 minutos, e o líquido foi analisado para medir a liberação do composto.

O resultado mostrou que três das quatro marcas testadas liberaram BPA, substância que, em altas concentrações, pode migrar do plástico para o corpo humano.

Os resultados das amostras

A maior concentração foi detectada na Curaprox Baby Grow, com 19 microgramas por quilo, quase o dobro do limite de migração permitido pela União Europeia, de 10 microgramas/kg.

A Sophie la Girafe apresentou 3 microgramas/kg, enquanto a Philips Avent Ultra Air e o modelo da Temu mostraram 2 microgramas/kg.

Embora esses valores estejam abaixo do limite europeu, a simples detecção de BPA em produtos rotulados como “livres” do composto já é considerada grave. Lembrando que no Brasil é totalmente proibido o composto em itens infantis.

O que dizem as empresas?

Após a divulgação do relatório, as empresas se manifestaram. A Curaden, fabricante da Curaprox, classificou os resultados como “uma surpresa” e informou ter retirado preventivamente os lotes afetados do mercado.

“Por excesso de cautela e em linha com nosso compromisso com a qualidade, decidimos remover as chupetas dos lotes afetados e oferecer reembolso aos clientes”, informou um um porta-voz em nota ao The Guardian.

A Vulli, responsável pela Sophie la Girafe, alegou que o valor detectado estava “bem abaixo do limite de detecção do laboratório” e seria “insignificante”.

Já a Philips declarou que a segurança dos produtos é sua “maior prioridade” e que testes adicionais realizados pela organização independente DEKRA “confirmaram a ausência de BPA detectável em toda a linha de chupetas, incluindo a amostra testada”.

A Saidah Baby Products, fabricante das chupetas vendidas na Temu, disse à Sun Health que interrompeu o fornecimento para a plataforma e repetirá os testes. Se o BPA for confirmado acima das diretrizes regulatórias, todas as vendas do lote serão suspensas.

O risco do BPA

O bisfenol A (BPA), nome químico 2,2-bis(4-hidroxifenil) propano (CAS n.º 000080-05-7), é amplamente utilizado na produção de plásticos e resinas, como garrafas de água, revestimentos internos de latas e embalagens de alimentos.

Segundo a Anvisa, a substância passou a ser alvo de polêmica após estudos questionarem sua segurança. Em 2010, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniu especialistas de diversos países para revisar os dados disponíveis.

O relatório concluiu que, para a maioria dos desfechos avaliados, a exposição humana ao BPA ocorre em níveis muito inferiores aos que causariam danos conhecidos. No entanto, alguns estudos experimentais observaram efeitos em doses baixas, como alterações neurológicas, hormonais e reprodutivas em animais.

A OMS considerou “prematuro” afirmar que essas evidências representem risco real à saúde humana, mas recomendou novas pesquisas para reduzir as incertezas. Desde então, o BPA passou a ser classificado como disruptor endócrino, um tipo de composto capaz de interferir nos hormônios do corpo.

Nos últimos anos, as evidências que questionam a segurança do composto químico vêm se acumulando. Uma revisão publicada em 2024 pela MDPI apontou associação entre a exposição ao BPA e alterações na qualidade do esperma, além de potenciais impactos na fertilidade masculina.

Pesquisas da Science Direct (2011) e da revista Reproductive Biology and Endocrinology (2019) também indicaram redução na motilidade e na contagem de espermatozoides.

Além disso, dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), conduzido nos Estados Unidos, mostraram relação entre níveis urinários de BPA e maior prevalência de obesidade geral e abdominal em adultos e crianças.

Já um estudo publicado na Nature apontou ligação entre a exposição crônica ao BPA e risco aumentado de câncer de próstata em humanos.

Fonte: ND+


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