Receber o diagnóstico de câncer, com toda a certeza, é um momento delicado e desafiador que afeta profundamente a saúde mental do paciente. Pensando nisso, a IstoÉ Gente conversou com o psicólogo Alexander Bez, que explica e analisa como lidar com a notícia.
“Esse tipo de problema é muito sério, não apenas do ponto de vista fisiológico, mas também psicológico. É essencial entender que, quando há uma lesão—seja física, como uma fratura, ou fisiológica, relacionada a um órgão interno—o impacto psicológico pode ser significativo”, diz o profissional.
“Quando ocorrem lesões, tanto externas quanto internas, a psicologia perde parte de sua função protetora. Esse é um princípio amplamente reconhecido na área, mencionado por grandes psiquiatras do passado, como Freud e outros estudiosos de diferentes correntes psicológicas. Existe uma máxima na psicologia que diz: quando há uma lesão física, a intervenção psicológica tem seus limites.”
“Por isso, em alguns casos, como em transtornos de ansiedade, pode ser necessário recorrer à medicação para equilibrar a mente e reduzir os efeitos do estresse. Isso demonstra como o funcionamento da mente humana está diretamente ligado à saúde do corpo”, explica Alexander Bez.
O impacto emocional do diagnóstico
No caso específico desse paciente, o foco deve estar no fortalecimento emocional, para que suas defesas mentais e orgânicas estejam mais preparadas. O que ocorre é que, além do impacto interno da condição, ele também será afetado pelo diagnóstico e pelo processo cirúrgico que enfrentará.
Procedimentos cirúrgicos são altamente estressantes, e o organismo responde a esse estresse de maneira intensa. O desafio aqui é aprender a lidar com essa carga emocional para evitar que ela agrave a condição física.
A etiologia da doença pode ter diferentes origens—pode ser genética, hereditária ou mesmo desencadeada por fatores como estresse crônico. Cada pessoa tem órgãos mais suscetíveis a sofrer impactos em momentos de alta tensão. Por isso, o cuidado preventivo com a saúde mental antes do surgimento de uma doença é fundamental.
Diferentes abordagens psicológicas
Na psicologia, há teorias divergentes sobre como lidar com problemas emocionais e situações de estresse. Algumas correntes defendem que a melhor estratégia é evitar focar no problema para não amplificá-lo. Outras sugerem que o ideal é encarar a questão de frente, refletindo sobre ela como parte do processo de enfrentamento. Ambas as abordagens têm fundamentos válidos e podem ser aplicadas de acordo com o perfil de cada indivíduo.
O que é inegável é que um diagnóstico grave pode afetar tanto o corpo quanto a mente, enfraquecendo as defesas psicológicas e imunológicas. Por isso, a forma como a pessoa encara o desafio faz toda a diferença.
Para ajudar nesse processo, seguem algumas recomendações importantes:
- Expressar os sentimentos.
O primeiro passo é permitir-se sentir e verbalizar as emoções. Isso pode ser feito consigo mesmo, com um parceiro(a), com o médico ou com amigos próximos. Expressar os sentimentos ajuda a aliviar o estresse e a reduzir a tensão emocional. - Estabelecer uma rede de apoio.
O suporte emocional é essencial. Ter ao lado familiares, amigos e profissionais de saúde proporciona mais segurança e equilíbrio nesse momento. A rede de apoio deve ser tanto psicológica quanto fisiológica, garantindo que a pessoa esteja assistida em todas as frentes. - Reduzir o estresse pré-operatório.
Antes da cirurgia, é fundamental manter a calma. Isso inclui seguir todas as orientações médicas, evitar sobrecarga emocional e adotar práticas que promovam bem-estar, como meditação ou atividades leves recomendadas pelo médico. - Priorizar o sono e o descanso.
O sono desempenha um papel essencial na recuperação e no equilíbrio do organismo. Ele contribui para a homeostase, ou seja, para a manutenção do equilíbrio físico e mental. Dormir bem ajuda a fortalecer as defesas do corpo e a reduzir os efeitos do estresse cirúrgico. - Encarar a realidade com maturidade.
Reconhecer a gravidade da situação sem negar os desafios é crucial. Fugir da realidade pode gerar mais ansiedade. Assim, encontrar um meio-termo entre aceitar o problema e agir para resolvê-lo pode ser uma abordagem mais saudável. - Manter a concentração e a motivação.
Focar na recuperação e no que precisa ser feito é uma estratégia poderosa. Manter-se motivado contribui para fortalecer a mente e, consequentemente, o corpo, tornando o processo menos desgastante. - Seguir com a vida e os compromissos.
Dentro do possível, é importante continuar com atividades pessoais, profissionais e afetivas. Isso mantém a pessoa conectada à sua rotina e evita que a doença se torne o único foco. - Buscar momentos de distração.
Se for possível, realizar uma pequena viagem ou se engajar em atividades prazerosas antes da cirurgia pode ajudar a reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Isso contribui para que o corpo enfrente o procedimento com mais energia e resiliência.
Cada pessoa lida com desafios à sua maneira, e não há uma única abordagem correta. O mais importante é encontrar um equilíbrio que permita passar por essa fase com o máximo de força mental e física possível. O apoio de familiares, amigos e profissionais faz toda a diferença para manter a perspectiva e enfrentar o processo com mais segurança.
Quando se enfrenta uma patologia severa como essa, entrar em um quadro depressivo pode ser fatal. Infelizmente, o desespero pode agravar ainda mais a situação.
Por isso, é fundamental manter a esperança. Independentemente de qualquer diagnóstico ou resultado clínico, a esperança é o que mantém a pessoa lutando. Quando se perde a esperança, a depressão pode se instalar, comprometendo ainda mais a saúde.
Além disso, manter-se positivo contribui para que o corpo libere mais energia, fortalecendo a capacidade de enfrentamento contra a doença. A força de vontade é essencial nesse processo, mas, para quem já está em um estado depressivo, encontrar esse ímpeto pode ser extremamente difícil.
Por isso, além de todas as estratégias que mencionei anteriormente, é crucial cultivar essa força interior. Sem isso, o risco de entrar em um quadro depressivo se torna ainda maior, e sair dele pode ser muito difícil.
A depressão enfraquece ainda mais as defesas do organismo, o que é um problema grave, já que doenças como essa minam a resistência física. O câncer, por exemplo, afeta as células, fazendo com que uma vá comprometendo a outra.
De forma geral, para manter uma boa resistência celular e orgânica, é essencial estar psicologicamente equilibrado. E o primeiro passo para isso é evitar qualquer fator que possa desencadear a depressão. A esperança é um dos principais aliados nesse processo, ajudando a manter uma perspectiva positiva e um estado mental mais estável.
Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.
É também autor dos livros: Inveja – O Inimigo Oculto; O Que Era Doce Virou Amargo!!! (Volumes 1, 2 e 3); A Magia da Beleza Feminina; A Paixão e Seus Encantos; e What You Don’t Know About COVID-19: The Mortal Virus.
Com informações da IstoÉ
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