Pacientes do SUS aguardam remédios oncológicos por até 11 anos

Pacientes do SUS aguardam remédios oncológicos por até 11 anos

Dezenove medicamentos oncológicos já aprovados pela Conitec para uso no SUS não são oferecidos à população — o atraso varia de 58 dias a impressionantes 11 anos, aponta levantamento do Instituto Oncoguia. Os casos mais críticos envolvem Erlotinibe e Gefitinibe, indicados para câncer de pulmão metastático: aprovados em 2013, ainda estão ausentes da rede pública, quando por lei deveriam ter sido incorporados em até 180 dias.

Em média, os 19 medicamentos acumulam 717 dias de espera. A maior parte deles destina-se a casos avançados, e dados de 2023 apontam que 57% dos pacientes iniciam o primeiro tratamento com a doença em estágio avançado ou metastático. A fundadora do Oncoguia, Luciana Holtz, destaca que tais medicamentos já estão disponíveis na saúde suplementar, o que pode ampliar a sobrevida de pacientes na rede privada em comparação à pública.

Entre os fármacos com atraso também estão os inibidores de ciclina, incorporados em dezembro de 2021 para tratar câncer de mama metastático hormonal e HER2 positivo — mas com quase três anos de espera no SUS. Hoje, pacientes só têm acesso à hormonioterapia; a combinação com inibidores seria a recomendada como primeira linha de tratamento.

A oncologista Angélica Nogueira, presidente da SBOC, reforça que todos os medicamentos condenados pelos atrasos já foram julgados custo‑efetivos — ou seja, comprovadamente eficazes e viáveis economicamente. O sistema de compras, majoritariamente descentralizado, é um dos entraves: cada unidade negocia separadamente, diminuindo o poder de barganha do governo.

Especialistas defendem a adoção de compras centralizadas, modelo de sucesso em programas de vacinação, argumentando que isso permitiria preços melhores, menos burocracia e distribuição mais rápida. Embora o Ministério da Saúde afirme que recursos para assistência oncológica no SUS subiram de R$ 5,1 bilhões (2022) para R$ 7,5 bilhões (2024), com mais de R$ 1 bilhão destinado à compra centralizada, o impacto estimado da incorporação dos novos medicamentos beira R$ 1 bilhão ao ano — um aumento de 83% nos custos.

Enquanto isso, pacientes recorrem à Justiça para obter acesso aos tratamentos, elevando ainda mais os gastos públicos: processos judiciais explicaram cerca de 33% dos dispêndios estaduais com medicamentos em 2023, segundo estudo do Ipea. As entidades alertam que essa judicialização onera o SUS e reflete falhas no planejamento e na transparência da política de acesso a medicamentos.

Com informações da Folha S.Paulo


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