A luta contra o câncer exige mais do que tratamento: exige respeito, acolhimento e um sistema de saúde humanizado.

Câncer e plano de saúde: Desafios na jornada do paciente oncológico

O diagnóstico de câncer representa, para qualquer ser humano, uma ruptura profunda com a rotina, os projetos e o senso de estabilidade. No entanto, no sistema de saúde suplementar brasileiro, essa dor é frequentemente agravada por falhas operacionais, burocracias excessivas e ausência de suporte humanizado.

Um estudo recente, intitulado “Jornada do Paciente Oncológico na Saúde Suplementar Brasileira: Design de Serviço Aplicado na Prática”, publicado na RBSS – Revista Brasileira de Saúde Suplementar, mapeou essas dificuldades a partir de entrevistas com 36 pacientes e 17 profissionais da área oncológica.

Os achados reforçam o que vemos na prática jurídica: o paciente é muitas vezes invisibilizado em sua dor, negligenciado em seus direitos e desamparado diante de um sistema que deveria acolhê-lo.

Comunicação falha e decisões unilaterais

Entre os principais relatos colhidos na pesquisa, destacam-se: falta de explicações claras sobre o diagnóstico e as alternativas terapêuticas; volume excessivo de informações técnicas em consultas curtas; e decisões médicas sem o envolvimento do paciente, que muitas vezes desconhece seus direitos.

Negligência com a saúde mental

A ausência de suporte psicológico estruturado foi outro ponto crítico revelado. Poucos pacientes relataram encaminhamento para atendimento psicológico. Quando isso ocorreu, partiu geralmente do próprio paciente ou de familiares.

A burocracia como obstáculo ao cuidado

Pacientes enfrentam autorizações negadas, exigência de deslocamentos e judicializações para garantir início ou continuidade do tratamento. Muitos ainda são obrigados a trocar de médico ou arcar com custos indevidos.

Negativas mais comuns dos planos de saúde

O estudo identificou padrões de negativa, como: recusa de medicamentos fora do rol da ANS; negativa de cirurgia reparadora; demora para autorizações; negativa de home care; cobrança indevida em internações; e descontinuidade de terapias de suporte.

Direitos dos pacientes oncológicos

Pacientes têm garantias legais como: cobertura obrigatória de tratamento oncológico; reconstrução mamária com simetrização; medicamentos de alto custo registrados na Anvisa; atendimento multidisciplinar; proibição de carência em urgências; direito à permanência com médico de confiança; e exames genéticos fundamentais para diagnóstico e conduta.

Judicialização como resposta à negligência

A Justiça tem sido a principal via para garantir o tratamento adequado. Litígios buscam autorizações, medicamentos, continuidade terapêutica e respeito à relação médico-paciente. O Judiciário se tornou peça-chave na proteção da dignidade do paciente.

Conclusão

O estudo mostra que o cuidado oncológico na saúde suplementar é fragmentado, burocrático e desconectado das necessidades reais dos pacientes. A experiência do paciente deve ser vista como parâmetro de qualidade. Enquanto esse redesenho não ocorre, a advocacia continua essencial para transformar dor em reparação e invisibilidade em proteção jurídica.

É urgente que o sistema reconheça o paciente com câncer como sujeito pleno de direitos — e não como mais um número na planilha de custos.

Com informações de Migalhas / imagem Freepik


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