A glândula tireoide, localizada na base do pescoço, produz hormônios que regulam batimentos cardíacos, pressão, temperatura e peso corporal. O câncer de tireoide ocorre quando células da glândula passam a se dividir de forma descontrolada, formando tumores capazes de invadir tecidos e se espalhar. Embora a maioria dos casos seja curável, especialistas se preocupam com o rápido aumento da incidência, especialmente nos Estados Unidos, onde os diagnósticos mais que triplicaram entre 1980 e 2016.
Esse crescimento inicialmente surpreendeu médicos, já que não houve desastres nucleares no período que justificassem o aumento. A principal explicação inicialmente encontrada foi o avanço dos diagnósticos. A introdução da ultrassonografia nos anos 1980 permitiu detectar pequenos tumores antes imperceptíveis, e a biópsia por punção aspirativa ampliou essa capacidade. Assim, muitos cânceres papilares pequenos, que crescem lentamente e raramente são fatais, passaram a ser identificados. Esses padrões são compatíveis com diagnóstico excessivo, reforçado pelo fato de que a mortalidade permaneceu estável. A Coreia do Sul, por exemplo, teve aumento abrupto de casos após implementar rastreamento em massa, seguido de queda quando o programa foi reduzido.
Com o tempo, os tratamentos foram ajustados: o iodo radioativo passou a ser usado apenas para casos agressivos, e cirurgias totais foram substituídas por remoções parciais ou vigilância ativa. Nos EUA, os índices atuais mostram estabilização. Porém, estudos recentes apontam que o sobrediagnóstico não é a única causa do aumento. Tumores maiores e metastáticos também cresceram em frequência, e a mortalidade mostra tendência de alta em alguns lugares.
Uma hipótese é o papel da obesidade. Pessoas com IMC elevado apresentam risco 50% maior de desenvolver câncer de tireoide e têm maior probabilidade de tumores agressivos e de morrer pela doença. Os mecanismos não são totalmente conhecidos, mas incluem inflamação, resistência à insulina e alterações hormonais. Substâncias desreguladoras endócrinas, presentes em produtos domésticos e industriais, também são investigadas, embora as evidências sejam contraditórias. Elementos-traço ambientais, como zinco e vanádio, foram sugeridos em regiões vulcânicas, mas ainda sem comprovação robusta.
Outra possível explicação é o aumento do uso de exames que emitem radiação ionizante, como tomografia computadorizada e raios X, especialmente em crianças. Um estudo estima que 3,5 mil casos por ano nos EUA possam ser atribuídos às tomografias. Como a tireoide jovem é particularmente sensível, esse fator pode contribuir para a elevação dos casos.
Diante dessas múltiplas evidências, especialistas afirmam que o fenômeno é provavelmente multifatorial, envolvendo fatores ambientais, metabólicos, hormonais, alimentares e genéticos, atuando de forma combinada no aumento da incidência do câncer de tireoide observado nas últimas décadas.
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