O paulista Aílton Santana, 53 anos, conviveu durante oito meses com dores intensas nas costas, dormindo e acordando com desconforto contínuo. Nesse período, consultou oito ortopedistas até descobrir que o problema não era na coluna, como se imaginava. Apenas após retornar ao primeiro médico e realizar exames mais detalhados, a ressonância revelou um tumor que travava sua coluna. O diagnóstico de mieloma múltiplo trouxe o impacto de uma doença incurável, marcada por recaídas frequentes e piora a cada nova linha de tratamento. No Brasil, estima-se que 7,6 mil novos casos ocorram por ano, e o mieloma representa 10% dos cânceres hematológicos. Na Bahia, entre 2020 e 2024, foram registradas 1.169 mortes.
Aílton recebeu a confirmação no fim de 2020 e, em julho de 2021, passou por transplante de medula óssea. Antes disso, já acumulava fraturas do crânio aos pés, passou por cirurgia no fêmur e precisou reaprender a andar após longos meses usando cadeira de rodas, andador e muletas. Ele relata que, apesar das comorbidades, o tratamento trouxe melhora significativa das dores que o acompanhavam 24 horas por dia.
Segundo a hematologista Vânia Hungria, da International Myeloma Foundation Latin America, entre 70% e 90% dos pacientes apresentam doença óssea. As células malignas produzem substâncias que destroem o osso, e a dor nas costas é frequentemente negligenciada por ser comum em idosos. O mieloma múltiplo, embora seja o segundo câncer sanguíneo mais comum, ainda é considerado raro. Afeta mais homens, pessoas negras e idosos, mas pode ocorrer em adultos jovens. Entre os sintomas estão dores ósseas, fadiga, anemia, perda de peso, febre e alterações renais.
O grande desafio continua sendo o diagnóstico precoce. No Brasil, 96% dos casos são identificados apenas em estágio avançado, enquanto nos Estados Unidos o índice é de 36%. A baixa disponibilidade de exames, como a eletroforese de proteínas, e a falta de preparo para suspeitar da doença dificultam a identificação. Para o hematologista Edvan de Queiroz Crusoe, do Hupes, muitos pacientes chegam a óbito sem sequer receber o diagnóstico correto.
Mesmo com avanços importantes, ainda não se fala em cura total, mas em “cura funcional”, quando o paciente permanece anos sem recaídas. Agora, um novo tratamento surge como promessa: o Blenrep, aprovado pela Anvisa para casos de mieloma múltiplo recaído ou refratário, com previsão de início da comercialização em janeiro de 2026. O Brasil teve participação expressiva nos estudos clínicos, recrutando o maior número de pacientes entre 20 países. No Hupes e no Hospital São Rafael, pacientes já testam a medicação, com resultados muito positivos. Para especialistas, pesquisas desse tipo ampliam o acesso de pacientes do SUS a terapias modernas e reduzem desigualdades no tratamento.
- Com informações do Correio 24 Horas
- Imagem: Freepik
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